Olmair Perez Rillo — O ambiente é sombrio, a miséria se verifica em toda parte. Crianças seminuas perambulam pelas vielas esburacadas, alagadas e mal cheirosas. Mulheres conversam sobre os mais diversos assuntos: o cabelo de fulana, a briga de beltrana com a vizinha, o vestido mais ousado de uma, o envolvimento de outra com o marido de não se sabem quem.

Os homens bebericam no boteco da esquina, jogando ou discutindo sobre o último clássico do futebol. Como pode perder um gol daqueles, bradou com voz pastosa, fruto da bebida em exagero, um dos membros da turma. Falta de vergonha na cara, pois ganham muito dinheiro pra pouca bola completou o dono da bodega.

De repente uma discussão mais acalorada na mesa onde se jogava o tradicional “truco” faz com que o brilho de uma faca brilhe sob os raios causticantes do sol. Em instantes um corpo cai por terra banhado em sangue. A vitima é prontamente socorrida, mas poucos se importam com o acontecido, acostumados que estão em presenciar cenas comuns como esta em um local onde a falta de segurança se une à miséria que sustenta o tráfico, o analfabetismo, a prostituição, os maus tratos às mulheres e a exploração infantil que fazem parte da rotina de cada um. Eles apenas se preocupam em sobreviver naquele ambiente pobre – infelizmente uma constante no mundo em que vivemos – fato que nos faz perguntar: onde estará o poder publico que pouco ou nada faz para combater os verdadeiros responsáveis por esta situação, todos eles vivendo em confortáveis apartamentos na cidade, não no lugar onde seus testas de ferro tomam conta de tudo?

A noite chega! O som marcante de instrumentos musicais invade as casas humildes, fazendo com que a cruel realidade se vá para ceder lugar aos sonhos e fantasias. Personagens históricos de um passado distante, como que arrancados das páginas dos livros, surgem pelas ruas colocando um contraste de luxo e beleza naquele cenário comumente sombrio e triste.

Pessoas comuns se transformam em reis e rainhas, sem se importar em estar ao lado de plebeus, com os quais andam de mãos dadas. Em um canto vemos a figura altiva e imponente de Castro Alves (1847/1871) observando os escravos – dos quais fora o seu poeta – que acompanhavam felizes Isabel, a Princesa Redentora (1846/1921), responsável pela assinatura da lei que determinou a quebra definitiva dos seus grilhões.

Ao seu lado encontramos o filósofo Grego Pitágoras (500 a. C. – 490 a. C.) empunhando um cartaz com sua célebre frase: ”Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens”; logo atrás, sem que saibamos se foi coincidência ou proposital, encontramos Oswaldo Cruz (1872/1917), cientista, médico, bacteriologista e sanitarista brasileiro, responsável pelas medidas que combateram o mosquito transmissor da febre amarela que se alastrava pelo Rio de Janeiro no inicio do século passado. Esta dúvida nos surgiu uma vez que, lamentavelmente, a atual epidemia desde mal, que se verifica em algumas regiões do País, está prestes a dar uma volta no tempo, fazendo com que vivamos momentos de extrema inquietação.

Deixando de lado este problema – que esperamos será prontamente solucionado pelos atuais responsáveis pela saúde pública – voltamos a prestar atenção nas pessoas que iam descendo a ladeira para acompanhar o trio elétrico. Chamou-nos a atenção, ainda, um grupo formado por Chaves, Chapolin, Seu Madruga, Chiquinha, Kiko que eram acompanhados por arlequins, colombinas, índios, piratas, e alguns mascarados “homenageando” Donald Trump, Barack Obama, Lula, Temer, Dilma e tantas outras figurinhas carimbadas da nossa tão combalida politica.

Os dias se sucederam, o tempo pareceu voar. Com a mesma impetuosidade do inicio, o encanto se desfez, os sonhos trocaram de lugar com a realidade. Os tambores, as cuícas, os tamborins, afoxés, reco-recos, caixas, repiniques, pandeiros, pratos, agogôs e vozes que acompanharam as músicas típicas da época, emudeceram. Os livros da fantasia voltaram a se fechar, a história recolheu seus personagens, transformando a imensa fogueira de luzes, sons, luxo, cores e beleza em um amontoado de cinzas.

Na quarta feira, que acordou triste, a velha rotina voltou a seguir seu curso e assim continuará até que, novamente, com todo o seu esplendor contagiante, retorne à terra um personagem que somente uma vez ao ano surge para sufocar a tristeza daquela gente humilde e esquecida.

Sim! Rei Momo haverá de ressurgir no próximo ano para que todos, esquecendo suas mágoas e incertezas possam viver, ao menos por alguns instantes, as ilusões e as alegrias contagiantes de um novo carnaval.

Olmair Perez Rillo, Articulista, Consultor de Marketing, Palestrante Motivacional, nasceu, reside em Penápolis e não possui ligações partidárias. olmair_perez@yahoo.com.br